Se você já teve trombose ou complicação gestacional ou conhece alguém que teve, possivelmente já ouviu falar sobre uma condição chamada “trombofilia”.
Mas afinal, o que são trombofilias?
O nosso sangue forma coágulos para ajudar a interromper sangramentos. Em algumas situações esse sistema que controla a coagulação pode se comportar de maneira inapropriada, aumentando probabilidade de um coágulo se formar dentro da nossa circulação sanguínea. Se uma pessoa tem trombofilia, isso significa que ela pode formar coágulos com mais facilidade.
Então, a trombofilia pode ser definida como uma predisposição para formar coágulos (trombos) de maneira inapropriada. Ela não é uma sentença, uma garantia de que a pessoa certamente terá uma trombose, mas sim aumenta o seu risco em relação às outras pessoas.
Essa predisposição de formar coágulos pode ser devida a fatores genéticos, mudanças adquiridas no mecanismo da coagulação, ou o que é mais comum: uma interação entre fatores genéticos e adquiridos. Como existem muitos fatores adquiridos que alteram o risco (ou probabilidade) de uma pessoa ter trombose, dizemos que a trombose é uma doença multifatorial. E a presença de uma trombofilia é apenas um dos vários elementos que determinam esse risco.
As trombofilias podem ser hereditárias ou então adquiridas. As trombofilias hereditárias são uma herança genética, transmitida de pais para filhos. Já a trombofilia adquirida, também conhecida como SAF (síndrome anti-fosfolípide) é uma doença autoimune, adquirida ao longo da vida e não tem relação genética ou hereditária.
É importante lembrar que as trombofilias estão presentes em uma minoria das pessoas: estima-se que as trombofilias hereditárias somadas tenham uma frequência inferior a 10% da população normal. A SAF é ainda mais rara, acometendo menos de 1% das pessoas. Então a chance de uma pessoa ter um fator de risco adquirido para trombose (como imobilização, trauma, fratura, cirurgia, uso de hormônios, obesidade, tabagismo, câncer, etc.) é muito maior do que de ser portadora de uma trombofilia.
É importante ressaltar, então, que pessoas sem trombofilia (mas com outros fatores de risco) podem ter trombose. E pessoas com trombofilia, embora tenham um risco aumentado, podem nunca na vida apresentar uma trombose.
O exame de trombofilias deve ser avaliado em pessoas jovens que tiveram alguma trombose venosa não explicada, ou tromboses recorrentes, mulheres que apresentam trombose na gestação ou enquanto em uso de anticoncepcionais, pessoas que apresentam tromboses em locais incomuns (como cérebro e veias abdominais), também parentes de primeiro grau de alguma pessoa que teve trombose ainda jovem. Algumas complicações gestacionais, como perdas de repetição e parto prematuro por insuficiência placentária podem ser indicativos de testagem para SAF.
Assim, é necessária uma avaliação individual de cada paciente para considerar se pra ele vai ser útil ou não realizar os exames para testagem de trombofilias. E para isso, é imprescindível uma avaliação com um médico hematologista especialista em coagulação (hemostasia e trombose).